21/04/2009

Notícias Ambientais

Andar à boleia para poupar gasolina

Reduzir o número de automóveis a circular com um passageiro é o desafio Galpshare.


A casa de Nuno Guerra, 36 anos, fica a escassos metros das estações de Metro do Lumiar e da Ameixoeira, em Lisboa. A pé, são cinco minutos. Apesar de comprar o passe todos os meses, são mais as vezes que tira o carro da garagem e enfrenta o trânsito congestionado da 2ª Circular até ao edifício da Vodafone, no Parque das Nações. Puro comodismo? O consultor defende-se: "De carro, chego em 20 minutos. De metro, como mudo de linha duas vezes, demoro o dobro do tempo. Não compensa".

Há duas semanas, embalado pelo spot publicitário da Galpshare na rádio, e impressionado com o facto de todos os dias circularem, em Lisboa e no Porto, dois milhões de lugares vazios, venceu o preconceito e publicou os seus dados pessoais, percursos e horários no portal energiapositiva.pt . E esperou.

Na terça-feira, às 8h35, o seu Peugeot 106, que marca mais de 250 mil quilómetros, quase todos percorridos em silêncio, na solidão do asfalto, segue para Oriente já com mais uma pessoa a bordo. Rui Cunha, 32 anos, vive a dois passos de Nuno Guerra, na Alta de Lisboa, e também ele procurava quem trabalhasse no Parque das Nações, com um horário entre as 9h30 e as 18h30/19horas e, de preferência, não-fumador.

"Gostos musicais ou estações de rádio preferidas não me interessavam", assume, durante a viagem de estreia. Foi só registar-se no portal e esperar que o programa de computador seleccionasse os candidatos. Uma troca de e-mails e alguns telefonemas depois, por motivos de segurança, foram suficientes para o levarem a aceitar a boleia de Nuno até à porta da seguradora AXA , onde trabalha como consultor informático na área das tecnologias de informação. A empatia entre os dois foi imediata, talvez porque trabalham na mesma área profissional.

"E utilizamos o mesmo sistema operativo", acrescenta Nuno, aliviado com a coincidência, como se temesse aqueles longos e embaraçosos períodos de silêncio. No seu carro, todos os temas de conversa são aceitáveis, à excepção de futebol, porque não segue o campeonato, ou política, para não azedar as manhãs, "mas não há regras", dizem, em coro.

Pouco depois das 9h, Rui Cunha está à porta da AXA . A boleia da tarde fica já apalavrada, "mas manda-me um SMS quando tiveres despachado", avisa-lhe Nuno, antes de arrancar em direcção ao Tejo. Pela frente, tem ainda a tarefa de encontrar lugar para o carro, o que já lhe valeu "algumas centenas de euros em multas de trânsito".

Ultrapassada a viagem inaugural, a mais temida pelos utilizadores do portal, receosos de dar esse passo no escuro, "mais boleias se seguirão", dizem. Da próxima vez, é Rui quem conduz, e assim evitam fazer contas ao gasóleo. Mas não é só a poupança que os move. "O sucesso das redes sociais, como o Facebook , explica-se porque todos queremos fazer novas amizades. Trocar dois dedos de conversa, enquanto se enfrenta o trânsito, é uma boa forma de começar o dia", comenta Rui.

Para a generalidade dos condutores, a ideia de partilhar a viatura particular "abala o desejo de cada um de nós proteger o seu espaço individual", resume Isabel Calado, directora de Marketing da Galp Energia . Para contornar um hábito tão enraizado no quotidiano dos portugueses, a Galpshare convidou várias empresas e instituições a aderirem ao projecto criando grupos exclusivos para os funcionários, "o que minimiza o receio de transportar desconhecidos".

A Caixa Geral de Depósitos foi uma das primeiras a revelar interesse, tal como a Central de Cervejas . Em fase de adesão está ainda o Hospital de Santa Maria , onde, em média, circulam diariamente 16 a 20 mil pessoas.

Maria Barbosa
Texto publicado na edição do Expresso de 10 de Abril de 2009

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